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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Velhice e solidão

Minha vó, muito bem encaminhada rumo aos 80, nos últimos anos deu pra ter medo da solidão, mesmo com marido, filhos, netos e bisneta. Na realidade, tem medo de se tornar, no avançar da idade, cada vez mais dependente - o que de fato, acontece com quem envelhece - e não encontrar amparo da família. Aliás, nem é este o medo verdadeiro. O receio maior, no fundo, é se tornar um fardo para os herdeiros.

Depois de alguma conversa, esse medo parece apaziguar. Não demora muito e ele reaparece, às vezes mais tímido, às vezes nem tanto. Muito apegada que sou à velha, acabo fazendo disso também fonte de preocupação.

Isso não significa que eu concorde que faltará a ela apoio quando a senilidade baixar inclemente. Mas admito que vejo essa como uma das crueis dúvidas inerentes ao viver. Privilegiados aqueles que nunca se pegaram temendo os efeitos da condição de idoso. Eu mesma já não participo mais dessa elite.

Nunca tinha atentado para a questão até assumir a opção por não ter filhos. O pensamento, entretanto, não surgiu sozinho. Provocado que foi, ele apareceu em bocas alheias. E em tantas e tantas situações volta como pergunta - ou melhor, muitas vezes como afirmação travestida de pergunta.

Salvo pequenas variações, ele costuma se manifestar assim: "Você não tem medo de ficar sozinha quando ficar velha?"

Talvez a (pa)maternidade possa representar uma alento, quase um antídoto para a solidão que a velhice é capaz de potencializar. Mas não é garantia. Fato: nem todos os filhos são dedicados como os pais. Fato: os caminhos tortuosos da vida por vezes não permitem que os filhos sejam dedicados como gostariam de ser. Fato: nem todos os filhos vivem mais do que seus pais. Fato derradeiro: eu não conseguiria assumir o papel de mãe esperando uma contrapartida de um filho meu.

Digo sem ressalvas que o amor incondicional, o único que preenche completamente este conceito, é o amor que se tem pelos filhos. Todas as outras modalidades de amor são escolhas. Isso aprendi nas palavras da mãe de um amigo - se não falei aqui ainda dessa lição, ao menos já a repeti bastante entre quem me conhece (mais informações a respeito podem ser obtidas no próximo café ou no próximo drink).

Pra mim, o amor em sua plenitude é o doar-se sem nada esperar. Sendo assim, na totalidade de seu sentido, amor é o sentimento que só os filhos são capazes de despertar. As damais variações são condicionais. Porque de um par invariavelmente espera-se algo, a começar pela fidelidade. De um irmão, respeito, por exemplo. E no caso do amor que se sente pelos pais, o sentimento existe pela responsabilidade assumida por eles durante nossa criação (a contrapartida que poderíamos ansiar já foi dada em algum momento).

Respondendo à questão mais acima: Sim, eu temo que a velhice traga a solidão a tiracolo. (Escrevi e falei alto, pra admitir pra mim mesma inclusive.) No entanto, o ponto é: eu também teria medo se escolhesse ser mãe. Porque amaria sem nada esperar. Eu disse "nada".

6 comentários:

  1. Como conviver com o idoso

    Ivone Boechat (autora)

    1- Nunca pergunte a um idoso: qual é o segredo de viver tanto assim? Porque a pessoa não vai lhe convencer ou vai dizer que não sabe a resposta. Quem vai adivinhar como se vive anos e anos, com tanta virose, corrupção, mentira, tapeação, bala perdida, exploração... ruindade!
    2- Nunca telefone ou visite um idoso entre 12:00h e 16:00h. TODO idoso gosta de descansar nesse período sagrado.
    3- Jamais conte um problema ao idoso. Ele vai poder ajudar? Também não seja o problema do idoso: é covardia. Ele não vai ter como se defender.
    4- Nunca interfira na decisão do idoso: se ele decidiu ser enterrado ou cremado. Não fique reclamando do preço da cremação, do túmulo..Nem fique agourando e perguntando o que a família deve escrever por cima do túmulo.
    5- Nunca diga ao idoso: essa história você já me contou dez vezes. Diga a ele que a história é interessante e o ajude a resumi-la. Ele vai entender que a história é conhecida!
    6- Não estimule o idoso a se lembrar de um fato que lhe cause sofrimento. Desvie sempre a tristeza para o lado bom de tudo.
    7- Não explore a disponibilidade do idoso, lembre-se que ele já trabalhou muito e hoje não tem mais resistência, saúde e vigor para tomar conta de problemas e cachorros... dos outros. Deixe em paz o cartão bancário com o pagamento da minguadíssima aposentadoria. Vai à luta!
    8- Mude o canal da TV quando o assunto é desgraça!
    9- Ao visitar o idoso, leve algo que lhe faça bem à saúde: boa conversa, estímulos, boas notícias... palavras cruzadas, linha para crochê... uma fruta que ele possa consumir... um livro. Nas festas de aniversário e Natal, seja criativo! Chega de tanto pijama e chinelo.
    10- Lembre-se: a pessoa idosa tem todo direito à felicidade e não vai ser você que vai atormentar os derradeiros dias da vida de ninguém. Exercite a gratidão, o perdão, a solidariedade e chega de despejar lixos de traumas, tristezas antigas e carências na caçamba que a vida cismou de colocar na porta de quem lutou tanto para resistir às intempéries.

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  2. Parabéns pelo post.
    É um tema muito complexo e cheio de sutilezas. Os prós e contras a serem pesados na balança e cada pessoa tem seus critérios. Junte-se à esta complexidade as incertezas do futuro e temos um problema de muito difícil solução...
    Agora, me ocorreu adicionar mais um aspecto: do ponto de vista da cobrança social e legal, ter filhos é cada vez mais pesado, além de caríssimo...

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  3. Tenho filhos e estou solitária. Depressiva.

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