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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Mulher em liberdade condicional

Depois de um período de hibernação, dedicado a aflições outras que não o tema central deste blog, eis que a boa filha a casa torna... O texto que, mais do que empolgar, me tirou do ostracismo foi uma feliz contribuição de Virginia Castro. A autoria é de Martha Medeiros e consta que foi publicado n´O Globo em 2007, próximo do Dia Internacional da Mulher, sob o título Liberdade Condicional. Segue o trecho que interessa, com grifos deste blog:

"(...) a mulher que luta para ser 100% independente e livre encontra um entrave justo naquilo que mais caracteriza sua condição feminina, a maternidade.

A maioria das mulheres que deseja ter filhos fica condicionada desde cedo a um projeto de casamento, mais suscetível a ideais românticos, e acaba se atrapalhando emocionalmente: como ser livre e ser mãe ao mesmo tempo? Aos homens é dada a possibilidade de amar e sustentar seus filhos, mas eles não estão atrelados à família do mesmo modo que nós. Não engravidam, não amamentam, não sofrem as mesmas pressões sociais. Para eles, ter um filho é uma maravilhosa aventura. Nenhuma crítica nisso: deveria ser uma aventura para os dois, mãe e pai. Porém, a mãe carrega um ônus que é só dela, e que acaba por lhe conferir uma liberdade vigiada. Ela fica mais visada em seu comportamento e tem menos mobilidade. Se ela der pouca importância ao seu papel no núcleo familiar, não faltará quem lhe aponte o dedo. A maternidade intensifica nossa vida e, ao mesmo tempo, nos engessa. Muita coisa mudou, menos o imutável: mulher gera. Portanto, é diferente.

Quando penso em algumas reivindicações femininas, quase sempre as relaciono a essa nossa prisão domiciliar. Quantas seguem apanhando porque não têm para onde fugir com os filhos? E por que recebemos salários mais baixos? Porque os patrões acreditam que nossa dedicação ao trabalho também é menor, já que, a priori, nossa atividade primordial estaria em casa. Essa mentalidade já mudou, mas só vai ser eliminada quando a mulher demonstrar dar mais importância ao trabalho do que à sacrossanta família. Será que consegue? E será que deve? (...)"

Um texto como este é capaz de dar asas a várias discussões. Mas a que mais me atrai no momento é aquela relacionada à pressão social sobre quem é mãe.

Apesar do bônus com que a maternidade presenteia a mulher, o ônus não deixa de me chamar a atenção desde que me conheço por gente. Quando me refiro a ônus, penso logo na responsabilidade delegada à mãe sobre os filhos e a contrapartida masculina em relação ao mesmo assunto (isso sem falar nas transformações físicas, que também podem ser bem assustadoras para quem de um passa à condição de dois alguéns por nove meses).

Sem entrar no julgamento do bom ou ruim e independentemente das motivações financeiras que determinam o dinamismo da vida conjugal, precisamos reconhecer que a tendência continua sendo a de a mulher abrir mão de suas pretensões profissionais em benefício do homem (ou "da família", se você preferir) no quadro pós-maternidade.

A mesma premissa vale para a vida social. Na rotina dos casais com filhos, predomina o número de casos em que a mulher opta por estar em casa com as crianças enquanto o pai está no futebol, no carteado ou no balcão do bar com os amigos. Sim ou não? E quando há separação, que cenário provoca estranhamento: o do pai que sai de casa ou o da mãe que cede a guarda integral das crianças ao ex-marido?

Para o bem da evolução de nosso povo, a passos lentos rumamos à igualdade entre os gêneros em diferentes esferas - na doméstica inclusive. Nessas horas, torço para que existam muitas vidas e que, numa próxima, sem disparidades como essas, a lista do que é ônus diminua e eu finalmente consiga ver o copo mais para cheio do que para vazio quando o tema for maternidade.

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